Silenciosos

sábado, 5 de dezembro de 2009




Hoje apetece-me escrever. Simplesmente sem ponto final. Escrever sem razão e sobre tudo. Escrever sobre a mulher que às segundas-feiras, pelo crepúsculo, se cruza comigo no caminho para a faculdade. Os lábios finos pintados de um vermelho vivo que eu não me imaginaria a usar. A cara coberta por uma base escura para esconder as nódoas e imperfeições do rosto. O olhar determinado. Segura de si mesma. O cabelo muito comprido. Preso com um gancho amarelo. Uma mulher-homem. Ou um homem-mulher. Ainda não sei. Ainda não descobri. Tenho sempre vontade de lhe perguntar as horas, de lhe tocar para saber se aquela mulher-homem é de porcelana e parte com facilidade. 
Escrever sobre a outra mulher que ontem se sentou ao meu lado no autocarro. As pernas cobertas de pelos pretos como se não fosse gente. Como se fosse um animal, um primata, um macaquinho qualquer. 

Escrever, ainda, sobre a senhora que se cruzou comigo no supermercado. Uma senhora simpática que me pediu para lhe ver o preço do arroz porque já não via muito bem. Uma típica avó inglesa, maquilhada e com cheiro de um elegante perfume. Com um gorro e um cachecol conjugados com as luvas azuis que tinha tirado desde então. Era uma avó simpatia, destas que ainda são avós- mulheres activas. 
Quando saí do supermercado, fiquei com um nó na garganta. Aquela senhora podia perfeitamente ser a minha avó. Senti saudades dessa criatura que tudo me deu quando eu ainda não era nada, ninguém!


Desejo um óptimo fim de semana a todos os meus queridos leitores!
Andreia Fausto


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