Glasgow # 10

Foi um dia normal. Absolutamente igual a tantos outros. Fui para a faculdade, mas a minha aula tinha sido cancelada e portanto nada de ver os meus colegas ou quem quer que fosse. Decidi ir até ao cento da cidade, entrei numa livraria que tem café costa lá dentro e por lá fiquei umas boas duas horas a beber um chocolate quente e a ler o novo livro do meu querido Pascal Marcier.
Vim para casa, fiz o almoço: por casa não estava ninguém, assim que almocei eu e a minha companhia.E depois estive a trabalhar. Nas pausas acabei de ler o livro do meu querido Saramago, escrevi uns emails a agradecer e por volta das 5 a Luísa ligou-me e fomos tomar um café. Eu já estava em pijama e tudo: daquelas sensações de" bem já fico por casa e pronto". Mas lá resisti à inércia e lá fui encontrar-me com a Luísa. E o facto de estar com ela valeu por tudo: foi um amor de pessoa, falámos pelos cotovelos, contámos histórias da vida e estávamos a gostar tanto da companhia que acabámos por jantar lá.
Quando regressei a casa, já os meus companheiros de casa estavam fechados nos quartos. Mas por volta da meia noite, uns minutos antes, o meu colega lituano veio bater-me à porta para me dar um abraço: daqueles que valem por muitos. E ficámos os 2 na conversa na cozinha até altas horas da madrugada. A beber chá e a comemorar o facto de estar um ano mais velha. E rimos como crianças, embrulhados numa manta- que por cá já está bastante frio- e senti-me feliz com aquele à vontade de um desconhecido que não foi dormir para poder estar comigo, uns meros minutos, na nossa cozinha, a rir como dois putos.

Não posso dizer que tenha sido um bom dia, mas não foi um dia mau. Fiz  a experiência de não por a minha data de aniversário no facebook, para saber quem eram realmente as pessoas que se lembravam de mim sem precisar de um alerta de uma rede social e surpreendeu-me que haja tantas pessoas dependentes desse lembrete. Não sei se antes as pessoas usavam as agendas, se punham na memória do telemóvel, mas foi engraçado perceber que comparando com o ano passado recebi menos 60% de felicitações. No entanto, minha gente: quem me felicitou foram os importantes, aqueles que são os amigos de verdade, que me conhecem, que sabem o que quero da vida. E é essas amizades verdadeiras que eu me preocupo em manter. Os outros? São meros conhecidos ou desconhecidos até!