Silenciosos

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Eternidades expectantes

Cai a noite.. Na cidade deserta e vazia toca a sirene do recolher obrigatório. O calor, o sorriso, afecta toda uma mistura de tropicais sensações no aconchego dos lençóis, num encosto de almofada que agora me olha sem ódio e sem ressentimento. Corpos abraçados numa proximidade tal do imaginário, corpos juntos que ficaram testemunho de um momento.

Escrevo, deitada. Cabelo preso a ganchos como a alma. O pensamento flutua. Consigo desvendar os meus segredos sem grande esforço. Sussurra-me ao ouvido o amanhã do mundo, Pergunto-lhe o que será de mim esta noite. Sorrisos imaturos e inconscientes de alguém sem resposta. Segundos, instantes… O mundo desmorona. Fecho os olhos e escuto. Solto o cabelo, dispo o roupão para me libertar de mim… Lembro-me de pequenos fragmentos. Ínfimos recortes de memórias que deixam tudo gélido num acto de loucura extrema. Espero o silêncio. Está escuro. Está muito escuro cá dentro. Tenho medo de adormecer. Tenho medo que toda a fantasia clássica dum passado se dramatize sem aviso prévio num presente. Tiro a armadura. Meu corpo ainda dói. Sente-se moído como a farinha branca dos moinhos. A incansável correria para a sedutora madrugada está a durar eternidades. Eternidades expectantes, essas que se esmorecem em segundos perdidos nisso que é o tempo. O povo levanta-se, então, cansado no meio da poeira da vida. Tem um rasgo de sorriso no rosto enfeitado por pequenas e secundárias cores industriais. Há em mim um esforço máximo e brilhante para que o mundo se assemelhe a esta perfeição pura da imagem que vejo na mente. Este povo sorri! No final desse enorme carrossel tudo volta ao seu posto primário. O povo volta a si. Eu volto a mim e descanso. Ou pelo menos tento. As lágrimas percorrem-me agora ao rosto num desespero de liberdade. Da garganta nem um ínfimo sinal de voz tem coragem de sair. Aquele que tanto me baralha, que tanto me faz perder os sentidos deixou-me exausta. Esse amanhã do mundo que não me deu resposta, levou-me até ao universo e fez-me ver que

tu não soubeste ver quando a minha alma dizia “ Amo-te” sem estar dependente do que os meus lábios pronunciavam.

Contudo, obrigada pelos sorrisos meu amor!


Andreia Fausto

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