Silenciosos

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Deixem-se de coisas

Não me venham com merdas que a moda pode ser muito gira e a beleza um regalo para os olhos mas a verdade é que já enjoa. Enjoa ver meninas magrinhas e bronzeadas de pernas à mostra e lábios e unhas pintadas com as últimas cores da estação, mulheres siliconadas nas praias a mostrar o físico impecável ao qual se dedicam 7 dias por semana, os bronzeados perfeitos, as roupas mais in (isto ainda se diz?) sejam giras ou trapos medonhos o que importa é que apareçam nas revistas de preferência nos corpinhos anoréticos das celebridades, os brunchs e os posts no facebook mais as festas na praia e as idas aos festivais que mais parecem desfiles. Mulheres que se acham o máximo e capazes de papar qualquer gajo que lhes passe à frente, mulheres que têm medo de se expor, de sair de casa despenteadas, de serem apanhadas a fazer caretas, que se preocupam mais com o que os outros vão pensar do que com o que vai dentro das próprias cabeças. Poder não é um par de mamas de silicone nem unhas pintadas com verniz de gel. Poder não é um corpo perfeito num anúncio de televisão. Poder não é levar o chefe para a cama. Poder mesmo, daquele que nos permite tomar decisões, não vem com calções mini nem decotes até ao umbigo. Ter orgulho em ser mulher, saber ser mulher não é ir ao cabeleireiro uma vez por semana, pôr extensões só porque sim, dar risadinhas de prazer quando um homem faz um piropo imbecil ou usar as calças alapadas ao cú como dizia a Katyzinha, equilibradas em saltos vertiginosos para ir ao supermercado. Não têm de ser trambolhos vestidos com T-shirts quatro números acima mas caramba quem gasta tanto tempo a pensar no que vestir e como conjugar os 345 acessórios, maquilhar-se, andar bamboleante, ter um cabelo sem defeitos e um olhar lânguido não pode ter espaço para outras coisas. Para perceber que os homens continuam a mandar e a tomar todas as decisões. E não, não chega sermos nós a mandar lá em casa porque o mundo é bem maior e nós até estamos em maior número. O que eu gostava de saber é onde é que andam essas mulheres que estudam, as inteligentes, as que pensam e lêem e discutem, as que estão em maioria nas universidades. Se somos mais do que eles, e se até vivemos mais anos, porra, porque é que continuamos a ser Tatchers nas raras vezes em que conseguimos chegar lá a cima, masculinizadas à força para sermos respeitadas e ouvidas? Ou se mostra as mamas ou se veste calças. Não há meio termo, caraças? Quando é que a merda dos anúncios da televisão vão deixar de ter gajas boas mesmo que estejam a vender relógios? Quando é que as mulheres vão poder fazer programas de humor que não sejam empurrados para a programação das madrugadas em que está toda a gente a dormir? Quando é que as mulheres vão deixar de ser medidas pelo rabo e pelas mamas e pelo palmo de cara? E até quando é que as mulheres vão deixar que isso aconteça? Já não posso com a playboy e das outras todas, vestidas ou despidas, é tudo uma merda, parece um talho com as carnes à venda. Toda a gente gosta de se sentir desejada mas foda-se há vida para além da lingerie e dos olhares masculinos. Cambada de atrasadas mentais, pá. E um livrinho que não venha da secção esotérica ou de auto-ajuda, não?

Não fui eu a escrever isto. Foi a blogger do Desassossego. Mas gostava de ter sido, porque penso igualzinho.

3 comentários:

  1. Parabéns à(ao) autor, pois este artigo está brutalmente magnífico e não só penso igual, concordo, como assino e sublinho na íntegra, cada palavra que aqui está escrita!!
    Beijinhos,
    Lia.

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  2. Amei!!! Nem mais. Parabéns à autora do texto

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